quinta-feira, 2 de junho de 2016

XANAX - Por Favor

Hoje, não consigo dormir. Não bebi café à noite, não andei a festejar o Dia da Criança, não jantei comida pesada, não fui sequer dançar e, ainda assim, não consigo dormir... Já experimentei a velha receita do leite quente, e nada; tentei contar carneirinhos, mas eles desataram a vir muitos ao mesmo tempo,  fiquei confusa e... sem sono; tentei, também, o jogo que fazia quando as minhas filhas eram pequeninas, ver televisão para dentro, o que significava fazer desfilar memórias boas, mas o sono não chegou; tentei, por fim, ler um bocado, mas comecei a ficar sem posição, detesto ler na cama muito tempo, e o sono não veio. Resolvi por isso sair da cama, mandar o dormir às urtigas, onde possivelmente está o sono, e vim trabalhar um pouco. Estive a rever os perfis de desempenho, a repensar critérios de avaliação e, agora, o sono fugiu de vez!
Eu acredito, mas de verdade, que devo trabalhar com os meus alunos para que eles sejam capazes, em determinados momentos /fases das suas vidas, de realizar algumas/muitas coisas. Por exemplo, eu acredito que um aluno de 7º ano, com 12-13 anos, tem de ser capaz de compreender um texto de 300 palavras, tem de ser capaz de elaborar um discurso lógico, tem de ser capaz de ler um Conto Literário e de o compreender, tem de saber conviver em sociedade, tem de reconhecer autoridade e de cumprir regras, tem de expressar opiniões e, quando necessário, reformulá-las. Ora, para eu verificar isto tudo, basta-me que, ao longo do ano, o aluno vá escrevendo, lendo, progredindo. Porque é que, depois, tenho de dizer que os testes valem X ou Y?
E acabo de descobrir por que não consigo dormir! Como é que eu posso  dormir se me dizem que a cidadania, o respeito pela convivência social, o desenvolvimento da competência social, vale (ou pesa) 10%! Quer dizer que ser-se uma pessoa correcta, respeitadora, solidária, trabalhadora, cumpridora, leal, justa, democrática, só conta 10%?? Ai ai... agora é que eu não vou mesmo dormir! E, como para grandes males grandes remédios, acho que vou substituir o leite morno por dois XANAX!!

2 comentários:

  1. "a cidadania, o respeito pela convivência social, o desenvolvimento da competência social, vale (ou pesa) 10%! Quer dizer que ser-se uma pessoa correcta, respeitadora, solidária, trabalhadora, cumpridora, leal, justa, democrática, só conta 10%??"

    Bom. Imaginemos que o mesmo item valeria 40%, ou mesmo 50% (nunca poderia valer 50%, salvo se os objectivos a atingir pelo aluno, péssimo em comportamento, fossem aprender a estar na escola e a respeitar os outros, coisa que já deveria saber de anos anteriores). Isso significaria que bastariam uns miseráveis 10% nas aprendizagens para considerar o aluno apto à transição de ano. Não posso concordar com isso. E na verdade nem concordo com os tais 10% que critica e sei que são norma. Aquilo que é transmutável a números são as aprendizagens que se avaliam e pretendem em cada disciplina. No grupo a que pertenci os famigerados 10% avaliavam-se no cumprimento dos outros parâmetros e não mereciam secção à parte; coisa que aliás me parece mais consentânea com o que expressou. Pode dizer-me ah, então e ser correcto e solidário e...respondo-lhe que são qualidades presentes em todos os parâmetros da avaliação (se o aluno chega tarde, não está atento, não trabalha em casa, não colabora nos trabalhos de grupo, vai reflectir-se na classificação); OS 10%, pese embora a opinião de muita gente que quer mais, são um florim com que muito professor esgrime para fazer transitar de ano alguns alunos (classificam-nos com 20 e 19 a cidadania).
    E, desde que esse item pesa na classificação dos alunos, estes não melhoraram o comportamento; muito pelo contrário. Há aqui qualquer coisa errada.

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  2. Não podia estar mais de acordo consigo! É exactamente o que defendo. Quantificar nem sempre é avaliar... Aliás, na minha modesta opinião, há muita confusão entre avaliar e classificar!

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