segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Poupar

Brincando, a eterna capacidade lusa de rir da própria desgraça, contava ontem um amigo que o ministro Vitor Gaspar só já assina Vitor Par para poupar no gás... Achei piada, mas fiquei a pensar que estamos, de verdade, a ter de poupar em coisas demasiadamente essenciais. Tão essencias que perturbam a nossa essência, dificultam a existência e esvaziam a nossa identidade. Poupa-se no supemercado, na gasolina, nas idas ao restaurante, nas férias, na electricidade, no pão, no café, no cabeleireiro, na roupa, na farmácia, etc. Poupa-se tanto que se começa, talvez sem dar por isso, a poupar nos afectos, na ternura, nas conversas longas, nas cumplicidades, nas humanidades.
Vivemos tristes, preocupados, ansiosos, dependentes da fuga exageradamente rápida dos euros das nossas contas bancárias. Será viver? Será que estamos a assistir ao terminar de uma era de ser-se pessoa,  para entrarmos na era da contabilização? Eu tinha esperança de que o actual governo mudasse alguma coisa. Tinha... Neste momento, alio a uma profunda desilusão um medo, medo até físico, de destruição e incapacidade de sobrevivência. Apetece-me perguntar: - Onde moram as pessoas que deveriam habitar nos governantes desta louca Europa?!

5 comentários:

  1. No poupar é que está o ganho, diz o povo!

    E tem toda a razão. Mas o povo não diz no poupar em extremo, no poupar em absoluto, no poupar desmedido... É isso que os nossos governantes e políticos não entendem. São verdadeiros absolutistas. Gastaram tudo o que havia e não havia e, agora, trata de fazer ao contrário e tomam o dedo pela mão, a mão pelo corpo, o corpo pelo todo e toca de tirar tudo a quase todos, obrigando a uma poupança brutal.

    Uma espécie de nó górdio, que foram enovelando sem nexo, sem saberem das voltas e, agora que é preciso desfazê-lo, toca de cortar com a espada, sem olhar a nada... não querendo ir desfazendo e desmanchando o nó, a pouco e pouco.

    É como no combate a um incêndio: para apagar as chamas que tudo queimam, deitam-se as águas que tudo alagam e destroem... Para combater um mal, usa-se outro mal, um mal que não preserva, que não guarda, que não conserva...

    Mas, ao menos, não dêem cabo dos afectos, da ternura, das conversas, do amor, das famílias e do ser humano com a sua essência.

    Cumprimentos.

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  2. Quando a poupança leva ao desvario, ao desatino, à perda de valores, à miséria e ao desemprego, à falência da economia, tudo se desmorona, tudo vem por aí abaixo.
    A sociedade desestrutura-se, desagrega-se, desmancha-se e tudo cai como castelo da cartas.
    É pena a falta do bom senso, a falta de imaginação, a falta de capacidade de diálogo.
    Tanta pena e dó!
    Álvaro

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  3. "Poupar, que já mandava o Salazar"! ...
    Mas os nossos antepassados, bem chegados, sobreviveram.E nem sequer tinham as benesses nem a metade, daquelas que existem agora.
    Temos que ter resignação e calma.
    Também não deve ser pêra doce ,estar à frente disto, agora... O Cavaco e os amigos é que me estão atravessados!

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  4. Deve-se poupar, enquanto há dinheiro.
    Quando não o há, não adianta, tudo é um remedeio. Se não se morre do mal, morre-se da cura!

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  5. Querida, o pior de tudo é que ja sinto que nós (eu e tu) também já somos desses que popam nos afectos, nas conversas longas, nas cumplicidades...
    Vamos fazer com que a crise não entre em nós.
    Beijos com saudades

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