quarta-feira, 7 de novembro de 2012

OBAMA


Nos tempos do farwest, dos cowboys e dos índios, a América era um lugar distante, feito de pradarias a perder de vista, de desfiladeiros assustadores e de muito cheiro a pólvora. Os cavaleiros, todos muito machos e cheirando a animália, salvavam as donzelas que, invariavelmente, amavam depois desesperadamente. Mais tarde, a América corporizou sonhos de liberdade, construiu-se no imaginário colectivo como o lugar de todos os possíveis, como a terra da igualdade, como o mundo onde, a par das estrelas de Hollywood, os comuns mortais conseguiam fazer da vida o que o desejo lhes pedia.
Na América, um dia, um negro teve um sonho. Foi morto por esse sonho de igualdade mas, depois de Martin Luther King, o mundo, mesmo fora da América, não voltou a ser o mesmo. 
O mundo, essa bola amachucada, elíptica e  absurdamente perigosa, continuou rodando e, de repente, a América surgiu poderosa e dominadora. Podia tudo, ou quase. Veio à Europa para ajudar a terminar a II Grande Guerra, foi morrer para o Vietname e, mais recentemente, invadiu países fazendo guerra. Para alguns, a América é o perigo, o materialismo no que ele tem de pior, a ganância e a violência. Para outros, como para mim, a América é a possibilidade de sonhar, é a diferença, é a oportunidade de uma vida diferente. 
A vitória de Obama, uma vez mais, veio materializar a diferença americana. É jovem, é negro, não pertence a um clã dominador. Mas tem um sonho, tem vontade, tem convicções e não desiste da mudança. Este homem não faz milagres e, por isso, é também fortemente condenado. Mas é também por isso que o admiro. Gosto da alegria deste americano poderoso, da forma ágil como sobe as escadas dos aviões, do sorriso pronto, do andar elástico, do olhar profundo.
No estado em que se encontra o meu país, quando não há uma ideia com sentido, a tristeza domina, a depressão é colectiva, as vozes são dolorosamente monocórdicas e os governantes se apresentam envelhecidos, curvados e cinzentos, fico com alguma inveja dos americanos. Porque Obama não vai resolver todos os problemas, não vai fazer felizes todas as pessoas, mas vai, tenho a certeza, dar confiança à maioria, revitalizar o povo e devolver a muitos a esperança num futuro que tem de ser possível. 
Hoje, gostaria que um dos nossos cinzentíssimos dirigentes, um só (não peço muito) reparasse que fazer diferente é possível, que continuar a colocar números à frente de pessoas a nada leva, que Portugal merece recuperar o sorriso e a cor com que se deve, creio eu, pintar o quotidiano.
Se, de repente, um Ministro Português, um qualquer, viesse a público sorrir, propor medidas de fazer e não de destruir, sugerir crescimento em vez de empobrecimento, emprego em vez de miséria, quero crer que Portugal faria eco das palavras de Obama e gritaria:- Sim, nós podemos!

4 comentários:

  1. Acha mesmo que nós podemos? Às vezes, acho que somos um povo estúpido e que até temos o que merecemos.
    João

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  2. Setôra, até a gente tem vontade de fazer alguma coisa! E é verdade, o Passos Coelho até está careca e marreco!

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  3. "a possibilidade de sonhar, a diferença, a oportunidade de uma vida diferente.." não estará também um pouco nas nossas mãos?

    mil beijos


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  4. Tens toda a razão, é de admirar a força deste homem! Jovem, dizes tu, mas com os cabelos todos brancos porque nada foi fácil nestes 4 anos. Nem vai ser. Mas foi bom saber que foi eleito ele! Ajuda-nos a acreditar no nosso sonho que, em tantas coisas, é o dele...~
    Longa vida nestes 4 anos a Barack Obama!O jovem...
    "É jovem, é negro, não pertence a um clã dominador. Mas tem um sonho, tem vontade, tem convicções e não desiste da mudança. Este homem não faz milagres e, por isso, é também fortemente condenado. Mas é também por isso que o admiro."
    Eu também penso como tu. Beijos

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