domingo, 31 de março de 2013

Na Sé

Entrei na Sé da minha cidade eram quase dez da noite. Estava escuro, céu carregado ameaçando desabar a qualquer momento. À porta, sentado no chão, um estrangeiro pedindo esmola. Lá dentro, os bancos cheios, cheiro a velas e luz fraca. Sentei-me e voltei a reparar na beleza na minha Sé. A cerimónia começou a horas. As luzes apagaram-se e, no silêncio escuro, o senhor bispo começou a anunciar a Ressurreição. Acendeu-se no fundo da igreja um lume forte, ateou-se o círio pascal e pelas coxias os padres foram dando luz às centenas de velas que os fiéis seguravam. Os cânticos solenes, as luzes tremelicantes, as vozes fortes dos padres, tudo começou a mexer comigo, a despertar memórias, a soltar torrentes líquidas. Depois das leituras, o baptismo de uma antiga aluna, de uma amiga muito querida. A Ana avançou, segura do que quer e daquilo em que acredita, e recebeu o baptismo. Estava séria, creio que um pouco nervosa - ou seria eu que estava? -, mas ouvi a sua voz firme, enchendo a Catedral, ao dizer Sim, Creio!.
Saí da Sé eram quase duas da manhã, o mendigo estrangeiro tinha desaparecido, e a chuva caía já copiosamente. Atravessei a cidade adormecida, a minha cidade, e senti a Páscoa. A necessidade de passagem, de mudança, de Vida!
Agora, lá fora continua chovendo e eu recupero o calor de ontem.

1 comentário:

  1. Gostava de ter ido a essa cerimónia. Nunca assisti à Festa da Ressurreição.

    João

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