sexta-feira, 24 de maio de 2013

A Moura Encantada

Bem cedo, quando nem os melros gordos ainda despertaram, abro a janela de par em par. Lá em baixo o mundo, ainda dormecido também, traz-me memórias e pedaços de sonho. 
Quando eu era pequena, olhando cá de cima, achava enorme a Serra da Penha. Com a cabeça cheia das lendas que ouvia contar, via a moura encantada, lá na cova, chorando pelo pai. Para mim, miúda, era muito mais dolorosa a falta do pai, do que a do príncipe apaixonado... Hoje, olho a Serra e penso que encolheu! Vejo um monte atacado de raquitismo, esventrado por línguas negras de alcatrão, com uma cruz onde chego com facilidade nos sábados excessivamente compridos. Já não sei onde é a Cova da Moura mas, por antinomia, compreendo cada vez melhor a falta que o Pai que lhe faz!

2 comentários:

  1. As mouras encantadas são as mulheres portuguesas que, como a senhora, lutam, sofrem, resistem e seguem em frente sempre ajudando os outros!
    António

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  2. Também estou de acordo consigo: um Pai faz sempre muita falta. Nisso estamos empatados...

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