sexta-feira, 15 de novembro de 2013

INJUSTIÇA

Entra na aula gingando o corpo, a popa bem levantada, os piercings brilhantes, a argola oscilando na orelha. Quer falar comigo. Uma questão de injustiça, afirma, que quer contar-me. Oiço-o, olhando no fundo os olhos baços. Conta então que foi à aula de educação física, espera aplausos por isso..., mas que não levou o equipamento necessário. Esqueceu-se. Porque, diz entre muitos prontos, um gajo não pode lembrar-se de tudo. ( O gajo é ele). O professor sugeriu-lhe que participasse na aula com a roupa que trazia no corpo. Mas, setôra, isso não 'tá com nada. O professor marcou-lhe falta. Finalmente, tomo conhecimento da injustiça, que é comparativa. Ou seja, o professor não marcou falta a duas colegas que também não tinham equipamento, e marcou-lhe a ele. Vem ao de cima o tal grande sentido de justiça igualitária que me irrita. Sugiro-lhe que reveja a situação, que pense no que fez, mas ele insiste que foi uma injustiça. E ele não admite injustiças! Explico-lhe, ou tento, o outro lado da história, ajudo-o a compreender que injustiçados são os colegas, que perdem tempo de aula com estas discussões, os professores, que vêem o trabalho prejudicado por estas intervenções. Falo-lhe de olhos nos olhos, com terna firmeza, e tenho pena desta rebeldia sofrida. Este miúdo, injustiçado..., precisava urgentemente da justiça de uma família capaz de dizer não, de estabelecer limites, de impôr regras. Este miúdo, precisa de uma escola exigente e rigorosa, não permissiva e facilitadora. Este miúdo vai, um dia, lamentar que a injustiça das suas escolhas o tenha feito perder-se. Eu queria poder lançar âncoras a esta gente!

3 comentários:

  1. É isso mesmo, a falta de justeza doméstica, que não educa quando facilita... que não dá importância ao que, realmente, importa... à Escola que não impõe regras de viver mais justas...

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  2. Bom Luisa, se é verdade o que ele lhe contou (e pode não ser) relativamente equidade de tratamento, realmente foi injusto, temos que concordar e, a injustiça dois muito!

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  3. Pena deste menino...
    Quantos anos ele ainda terá que viver, aprender, sentir , avaliar na própria pele, o que é mesmo,uma verdadeira injustiça ...
    Pode ser que não...

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