domingo, 8 de junho de 2014

O Veleiro

 Lá no alto, a lua e as nuvens. Cá em baixo, ela. Estreante em viagens de veleiro, ouvia o zumbido suave do vento, via a água escura fazendo carneirinhos e sentia o grande veleiro a deslizar. 
O comandante, um jovem Tiago de falar alentejano e cores holandesas, contava que o barco viera da Holanda, todo em ferro com mais de 100 anos. Falava de termos que ela desconhecia, a retranca, o calado, o patilhão,  e talvez o desconhecimento dos sentidos conferisse mais magia quente aquela viagem. Sentada na popa, de pernas cruzadas para não perturbar o governo do leme, olhava as margens do Alqueva, o seu Alentejo tão amado e, agora, tão diferente com o grande lado a enchê-lo. Via as vacas, os pastores cansados, as roulottes dos turistas e os sobreiros de sempre. Muitas vezes dizia que não morreria sem fazer um cruzeiro. Mas a gente diz tanta coisa... Agora sentia-se feliz, em harmonia com a paisagem, deixando que os medos se afogassem como o castelo de Lousa, permitindo que as angústias adormecessem embaladas pelas águas do Alqueva. 
Via a ponta da vela grande, não da genoa, e descobria a lua lá longe. 
Era dia sim, mas a certeza da noite ali estava e havia de chegar. Porque sempre chega a noite quando o sol inunda a alma das gentes.


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