sábado, 14 de março de 2015

BREVE ETERNIDADE

Tínhamos acordado tarde, ou melhor, eu tinha preguiçado até mais tarde e tu, como sempre, saltaras mais cedo da cama em busca das primeiras notícias que sempre acompanhas com o primeiro café. Na cama, pensei uma vez mais que não devias beber café em jejum. Mas enrolei a recomendação na preguiça e deixei-me ficar no silêncio. Lembras-te como chovia lá fora? Tínhamos combinado ir passear, sair para uma volta de domingo mas o tempo,  a chuva, desencorajaram-nos. Agora, quando já não há cheiro a café cedo na minha casa, penso que nunca deveríamos ter cedido ao mau tempo. Talvez, quem sabe, tivéssemos conseguido alguma sabedoria para encarar as tempestades que haviam de chegar...
Naquele dia, eu achava que o cheiro do café, que os teus passos descalços no sobrado, que a mornice da cama seria eterna. Incrível como a eternidade é curta, não achas?
Porque me lembro eu disto, agora, quando o Marques Mendes diz banalidades na televisão? Talvez, apenas, porque naquele dia, naquela manhã, houve um fio qualquer que se quebrou dentro de mim quando, ao entrar na sala, te vi com o olhar perdido numa imagem alheia. Talvez não seja possível, penso, suportar a certeza de um amor sem eco.  

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