sábado, 16 de setembro de 2017

CORAÇÃO??

Não lhe viessem com romantismos anquilosados. O seu coração batia sim, bombeando sangue. Nada mais. O problema não era, pelo menos por enquanto, o funcionamento da bomba. Era, sim, a disputa entre os dois hemisférios do seu cérebro. Do lado da razão, a exigência do pragmatismo, a informação, clara, de que a traição acontecia, de que só ela mesma sobrava. Do hemisfério direito, o da emoção, a ilusão de um amor impossível, proibido pelas exigências de uma sociedade em si mesma oca... 
Ela ficava assim, de olhar húmido, encarando cada amanhecer com a esperança perdida da mudança eternamente adiada. Coisas de coração, diziam-lhe. E ela sorria cansada, descrente. Porque o coração, o dela, indiferente às discussões do cérebro, continuava a bombear, certinho, o sangue para todo o lado.

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