sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Desamor

Estou farta do amor. Já chateia. - Foi assim que ouvi, com decisão na voz, de uma jovem à conquista da vida. Alguma coisa dentro de mim, eterna alma romântica, estremeceu. Como se pode estar farta do amor? Como é possível enjoar-se a paixão? Fiz conversa. Conversa de desdizer, de contraversar mesmo, sentadas as duas à beira da piscina, interrompendo, de vez em quando, para um mergulho refrescante. Falei da necessidade de recuperar a vontade de amar, a fé nas relações humanas, a confiança nos afectos. Ouvi falar de desviver, de desexistências e de realidades por demais irreais. Que o amor não leva a lado nenhum, que este mundo, esta sociedade, é tão melhor quanto menos ocupada. Falou-me desta coisa da inumanidade e garantiu-me, com a frieza irónica dos jovens, que o fim do mundo é isto mesmo: - o esvaziar da essência humana. A construção e investimento numa desumanização eficaz. Metálica, até.
Contrapus a minha fé nos Homens. Falei da realização perfeita que só se consegue quando dois corpos se fazem uma alma só. Confessei que já ouvi as asas dos anjos quando, depois do Amor feito e vivido, vêm invejar a felicidade que o silêncio envolve. Riu-se de mim a minha jovem parceira. Que isso são mentiras, ficções, e, lembrando Alberto Caeiro, garantiu que a mentira está em mim. Depois, como quem põe ponto final, declarou: - Acabou o tempo dos poetas. Agora, o importante é despoetar. Fiquei dorida.

1 comentário:

  1. O amor é muito difícil. Muito mais fácil, incomparavelmente mais facil!, o sexo. E, numa sociedade desespiritualizada, eroticomanizada por tudo o que é coisa, por tudo o que é livro, filme, jornal. cartaz... os sentimentos tornam-se ainda mais complicados. Uma sociedade impura tolhe e desanima os puros. Os jovens são puros... até crescrem... Lembre Salinguer: 'todos crescem mas alguns limitam-se a envelhecer...'
    Manuel Poppe

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