segunda-feira, 3 de agosto de 2015

MÚSICA


O dia quente, aos poucos, despedia-se, dava lugar a uma noite calma, musical, trazida por vento oportuno e refrescante. Marvão, seguro na força da história já vencida, esperava-me. Como Anteu, na paradoxal insignificância do meu ser, preciso pisar os lugares que me fazem, que são meus também, para seguir existindo... E Marvão abraça-me, sempre, oferecendo-se para, sob a protecção das águias, me ajudar a reacreditar no mundo. 
À entrada do castelo esculturas recortadas contra o vale imenso, a ideia de que, de facto, somos apenas sombras! Lá dentro, no pequeno pátio do velho castelo, protegida pelas muralhas limpas, a orquestra desafiava sentires e sentidos. Sentei-me, fechei os olhos e deixei-me levar pelas cordas dos violinos, pela energia do violoncelo, pelo entusiasmo do maestro alemão que, a custo, dizia em português "Obrrigaaada Márvão!!"
Depois, a noite. O escuro do manto que o silêncio faz, tantas vezes, assustador. A cama, o sonho que insiste em ganhar forma de pesadelo e a oração, silenciosa, pedindo um amanhecer diferente. Como música, então, apenas o coro de cigarras vadias.


1 comentário:

  1. Que linda imagem de Marvão a juntar a tantas outras,mas sempre lindas,que guardo comigo e revejo sempre que posso.
    Continuação de boa semana.
    Gina

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