quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O 1º Dia de Escola

Com as aulas a começar, e a rádio que me acorda a falar de primeiros dias, tenho hoje carregado mais viva a memória de alguns dos meus primeiros dias de aulas. 
Quando tinha seis anos, onde ficou esse tempo?, entrei para a primeira classe. Então, não havia nada básico, era mesmo primário. Como, em Portalegre, não havia, nesse ano, vaga para mim no Colégio onde andavam os meus irmãos mais velhos, a minha mãe, que sempre foi uma senhora de ideias estranhas, decidiu enviar-me para a Alagoa com a professora Rita. 
A professora Rita era uma solteirona, na altura só solteira, de bochechas vermelhas, baixinha, sempre corada e que, para além de ter um Anglia, na época eu só sabia que o carro dela tinha bancos vermelhos, tinha em casa um piano e cheirava a naftalina. 
A professora Rita ia buscar-me a casa, bem cedo, e levava-me com ela para a Alagoa. Na escola da aldeia havia a sala dos rapazes e a das raparigas e, para meu azar, a professora Rita dava aulas aos rapazes. Eu, menina da professora, ficava sentada na secretária dela, de frente para os meninos, tipo rata sábia. Nos intervalos, em vez de brincar, ficava "a conversar" com a professora Rita e, penso agora, morria de inveja dos meninos que, na terra, esfolavam os joelhos ou saltavam na lama. Almoçava com a professora, um almoço que ela preparava para mim e aquecia, na escola, num fogareiro de um só bico. Ainda sei o sabor do arroz de carne... Quando voltavamos da escola, eu continuava em casa da professora, até que, ao fim do dia, alguém me fosse buscar. Era, então, o meu momento de descoberta. A casa era enorme, muito escura e cheia de cheiros, e eu podia tocar no piano (não tocar piano...), regar as flores e espreitar as pessoas que iam aos Correios (hoje Correios Velhos).
Em casa, os meus irmãos chamavam-me alagoense, campónia, e outros epitetos igualmente simpáticos e elogiosos...
No meu primeiro dia de escola não houve, por isso, adeus à mãe, lágrimas ou mimo. Lágrimas estavam guardadas para outros dias, mimos para outros momentos.

1 comentário:


  1. Ó Luisa, diga-me lá que hoje não é uma mariquice o primeiro dia de escola?
    Porque era longe a minha tia levou-me ao portão da escola, à tarde já vim sozinha para casa! Com os meus filhos foi o mesmo, levei-os ao fundo das escadas do colégio e lá foram pelo pé deles. Anteriormente tinha falado com as professoras e era o suficiente. Não me consta que as mães nessa altura entrassem na sala de aula e se arrumassem na parede do fundo!

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