domingo, 12 de agosto de 2018

TERRAÇO

A noite chegou aveludada ao terraço grande. Ele olhava-a, com o páreo enrolado na cintura, deixando as coxas a descoberto, anunciando algum frio mas presa na preguiça do fim de tarde. 
Conheciam-se bem, muito bem, mas sempre o surpreendia o muro de silêncio que, sem aviso, às vezes ela erguia em seu redor. Era só dela. O olhar escuro ficava intenso e partia para longe, para um lugar de onde, talvez inconscientemente, o excluia. Olhava-a. Sentia no corpo o desejo dela, daquela maneira, tão única, de se enrolar nele fazendo-se um só. Fez o gelo dançar no copo trazendo-a de volta ao terraço. 
Ela sorriu. Está a ficar frio, e levantou-se enfim para voltar, descontraída, com a camisola dele sobre o biquini e o páreo. Sentou-se no muro, olhando-o e pegou no copo dele. Bom este branco alenteajno, disse lambendo os lábios e provocando o desejo imenso que ele tinha dela. Vamos sair?  Não. ela contrapunha com a preguiça de se vestir. Tão bom estar em casa, assim, sem pressas nem outros alguéns.
Ele cedeu sorrindo. Era dela mesmo aquele vício de isolamento, aquela quase necessidade de se esconder do mundo deixando que só as emoções dos dois os envolvessem. Levantou-se e ela abraçou-o pela cintura. Com carinho, reparou que os cabelos castanhos estavam a ficar cinzentos, que o tempo passava mesmo naquela mulher exclusiva, estranha, avó já, que amava cada vez mais.
Quero-te. E ela sorriu um está frio, antecipando o amor que ali mesmo, no terraço, os levaria para o terreno que tão bem conheciam.

Sem comentários:

Enviar um comentário