domingo, 15 de setembro de 2019

ESPARTILHO ESCOLAR

O Tempo passa, veloz, e a minha terceira neta, a mais velha dos portugueses, entra amanhã para o 1º ano, 1º ciclo. O nervoso da miúda parece-me natural, muda de escola, muda de professora, dizem-lhe que não pode falar e que tem de trabalhar muito. Ansiosa, pergunta como fará se tiver dúvidas, e se precisar de ir à casa de banho, e se precisar MESMO de dizer coisa - ela gosta muito de dizer "coisas". Eu desdramatizo. Garanto que vai ser muito divertido, que vai fazer muitas coisas interessantes, que vai aprender a ler e a escrever-me mensagens, que pode sempre falar desde que não interrompa. Enfim, sábios (ou não) conselhos de avó.
Este fim-de-semana fui vê-la. Atravesso sempre meio país, e sempre tenho a sensação de estar no estrangeiro! Desta vez, pior... Pensei que tinha aterrado no quarto mundo, lá para trás do sol posto.
A minha filha veio da reunião de apresentação, com pais e crianças, numa manhã de muito calor, com uma lista de material para comprar e, pasmei!, com um horário!
À minha neta, de seis anos e muita curiosidade, foi dado um horário onde se diz, explicitamente, que terá português às 8,30h, duas horas, depois intervalo, depois matemática, de tarde estudo do meio, e ao fim do dia as AECs . Na segunda-feira é assim, e no resto da semana trocam-se as horas mantendo, sempre, as áreas de expressões para o fim da tarde.
O meu desgosto revoltado faz-se de incompreensão e discordância. Como é possível? Se se sabe, se andamos há pelo menos três anos, a tentar que os professores articulem conteúdos, que coloquem diversos saberes ao serviço da promoção das mesmas competências, se tentamos que, nos segundo, terceiro ciclos e secundário, se desenvolvam práticas pedagógicas activas, se dizemos que um DAC (exactamente porque estabelece relações) pode ser uma estratégia de sucesso, porque é que, no 1º Ciclo, quando o ambiente é naturalmente propício a novas metodologias, a aprendizagens activas e colaborativas, se tenta espartilhar a aprendizagem?
Eu sei que não é o Ministério da Educação que obriga a distribuir horários para o 1º ciclo, e sei que é possível fazer diferente. Ainda por cima, eu tenho a certeza absoluta que aprender de outro modo, articular aprendizagens, faz a diferença no sucesso das crianças e, por isso, não consigo calar hoje a minha indignação!
A minha Constança, como todas as Constanças, todas as meninas e meninos que amanhã vão para o 1º ano, merecem uma Escola com sentido e não com espartilhos.
Estou mesmo triste! Tão triste que, neste momento, só desejo que a minha neta se revele uma daquelas crianças resistentes ao professor. Daquelas que, independentemente do método e do professor, sempre aprendem e sempre são felizes!

2 comentários:

  1. Luísa, a minha indignação são foi menor qd soube que a minha neta Dianinha (a que viu no post) e que entrou para o 7.ºano tem 13, sim 13 disciplinas e os correspondentes 13 professores!!
    O horário tem 5 tempos letivos seguidos nos cinco dias da semana! Como é que uma criança pode tirar algum proveito? Além disso tem mais três tardes com dois tempos... Algo está MUITO MAL no ensino e parece que poucos estão interessados em o mudar!

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    1. Sabe, Dalma, há um imenso fosso entre o que o MEC propõe, e legisla, e o que as Escolas fazem. Não se fazem mudanças senão com as pessoas e, infelizmente (digo eu) ainda há alguns professores a ignorar a necessária alteração da Escola! Eu vivo estes problemas intensamente, é o futuro que está em causa e esse começa agora...

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