segunda-feira, 14 de outubro de 2019

DIFÍCIL CONCORDAR

Quando andei na Universidade, no século passado, Saramago não era Nobel e nem sequer era estudado. Como leitora compulsiva que sou, li, sem nenhuma intenção para além da minha fruição, a obra de Saramago. Gostei de alguns romances, não gostei de outros. Apaixonei-me por alguns textos, passaram a fazer parte de mim, desinteressei-me de outros.
Já como professora de português, tornou-se, e bem, obrigatório dar a conhecer a obra de Saramago aos alunos. Fi-lo com interesse e gosto. Li cartas, crónicas e, no 12º ano, O Memorial do Convento. Tive algum receio do desafio que era trabalhar uma obra desta envergadura...
Fiz formação, fui aprender como trabalhar este romance e, claro, fiz, com os alunos, dezenas de visitas a Mafra. Eram, sempre, visitas muito interessantes e de extrema qualidade. Como inconveniente, só mesmo o custo das mesmas...
Há dois anos, surgiu a obrigatoriedade de substituir O Memorial do Convento pelo Ano da Morte de Ricardo Reis, por dois anos lectivos.   
Achei uma excelente ideia, voltei ao romance que lera já havia uns anos. E voltei a encantar-me. 
Para mim, fazia, e faz, todo o sentido trabalhar este romance, até porque os alunos de 12º ano estudam Pessoa e os heterónimos. A linha de relações possíveis, a palavra ficcionada ao serviço, claro, de um ideal maior, parecia-me (e continua  parecer) , uma excelente oportunidade para desenvolver competências de cidadania.  
Este ano, e esgotados os dois anos anunciados, as escolas podem escolher entre as duas obras. Para grande surpresa minha, há escolas a escolher o Memorial do Convento
Fica difícil, para mim, concordar com esta opção. 
Compreendo que para o concelho de Mafra as visitas ao Palácio-Convento são geradoras de riqueza e actividade, mas penso que, para os alunos, O Ano da Morte de Ricardo Reis é mais capaz de desenvolver e cimentar o sentido crítico e a acção cívica.
Enfim, às vezes, fica difícil concordar com os meus colegas. 

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