quarta-feira, 9 de outubro de 2019

FICÇÃO

O vidro, ao comprido da porta, revela a sala de aula. Os alunos, em três filas, dois a dois, a olhar, e a professora, de livro na mão, fazendo a leitura do poema (os alunos lêem tão mal...). Ela, a professora, fala (os alunos não estão habituados a linguagem poética).. Ela diz coisas de Pessoa, do que quer dizer o verso primeiro, os seguintes também,  da temática em causa. Os alunos, sempre nos seus lugares, ouvem. 
Ou não. Há quem aproveite para actualizar a informação do Facebook, quem faça exercícios de matemática, quem tente registar o que a professora diz. A seguir, quando do poema já só restam palavras ocas, recursos de estilo vazios e mensagens lineares, a professora passa a responder às perguntas do livro. Ah, a primeira passou, já tinha dito na análise do poema! 
No final da aula, uma aluna pergunta como é  possível ter encontrado tanta coisa naquele poema que, para ela, só fala da natureza. Sorrindo, pedagógica, a professora afirma que é o resultado de muitos anos a fazer o mesmo...E a jovem pensa, mas não diz, que isso nunca acontecerá com ela, porque não se imagina passar muitos anos a escrever coisas sobre poemas.
Este mini-registo é pura ficção. Mas, se por azar acontecesse numa Escola qualquer, que pena eu teria dos jovens que assim perdem tempo de vida...

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