sábado, 16 de maio de 2009

Vento



Soprava com força, frio, zangado talvez, o vento na minha Serra. Os meus sentires, eternamente incapazes de paz e indiferença, emaranhavam-se com força no meu passeio, com o Fred e a Ginja, pelo meu quintal. Ali estavam as cerejeiras, carregadas, o Fred a comer cerejas da árvore e a cuspir os caroços, exactamente como eu. A Ginja, fêmea..., mais inquieta, sem querer saber das cerejas, preocupada em descobrir a rã que, rápida e curiosa, parecia provocá-la por entre os nenúfares. Sentei-me ali, casaco velho bem abotoado, cabelos a embaraçarem-se, e fiquei vendo os bichos, a vida, o tempo.
Tenho muitas coisas para pensar, algumas para arrumar na arca de nenhures, outras para resolver, (coloco-as vezes demais nos cantos poeirentos do meu ser), algumas para eliminar (tarefa tão difícil...) e poucas para reciclar. Acho que eu devia ser emotivamente ecológica. Assim como faço (às vezes...) com o lixo e as garrafas, devia fazer com os meus sentires e pensares. Devia ser capaz de os reciclar em novas essências com melhor utilidade. Era, por exemplo, o que devia fazer com as minhas mágoas políticas. Devia ser capaz de converter a minha desilusão, frustração e tristeza, em energia interventiva, construtiva e modificadora. Devia reciclar a minha desesperança, que anda a ganhar forma de comodismo e desinteresse, transformando-a em força de lutar, protestar, participar e mudar. Imagino, por exemplo, os nomes horríveis (ainda que justos e sinceros) que destino à ministra da educação a serem reciclados...
O meu telemóvel, com a melodia brasileira que o distingue "Que tal nós dois, numa banheira de espuma..." (Grande ideia!!!) trouxe-me para a realidade, arrancou-me aos ecopontos dos sonhos. É sempre assim! Sempre que me dá vontade de ser boazinha e correcta, algo me acorda para a realidade!!!

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