quinta-feira, 7 de julho de 2011

Cacos

Era uma pilha de pratos de boa loiça. Pratos com história, presenças em muitos jantares, depositários de muitos manjares, assistentes de muitas conversas, testemunhos de muitos sonhos e projectos. Tinham sido lavados à mão, um de cada vez, com detergente de não promoção, luvas de borracha suave, água morna sem calcário excessivo. Ela enxugara-os com um pano branco, sem riscas vulgares, e colocara-os numa pilha ordenada: - Em baixo os rasos, por cima os de sopa, no topo os de doce. Se fossem pratos de vida, seriam primeiro os indispensáveis, depois os profundos e, bem à mão de semear - que é como quem diz de utilizar -, os das coisas boas! Essas coisas boas que, diz a (des)razão, devem sempre ser moderadas, sem exageros. Mas ela exagerara e tentara carregar a pilha completa, de uma só vez. Um esforço ousado. Porque, sem aviso, sem balançar sequer, a pilha caíu no chão e os cacos chegaram a todos os cantos.
Pegou na vassoura, mas não conseguiu varrer tudo para o lixo. É tão difícil apanhar cacos!!

1 comentário:

  1. Há muitas formas de partir a louça toda.

    Esta foi a maneira mais literal de se partir.

    Estes cacos não foram feitos de raiva, não aconteceram por desfaçatez, apenas por ação da gravidade.

    O pior, depois, é sempre o ter de limpar os cacos, sejam os da raiva, os da desfaçatez ou os verdadeiros.

    Já agora um conselho: depois da vassoura, passe com o aspirador... sempre aspira tudo!

    Cumprimentos

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