quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Experiência Traumática

Sempre defendi, e defendo, que devemos intervir civicamente. Julgo que viver em sociedade não pode ser ficar de fora, criticando, condenando, sem ajudar a fazer melhor e, por isso  mesmo, há muitos anos que participo como sei e posso. Fui candidata a deputada, andei colada pelas paredes e paragens de autocarro, fui militante activa e, há já quase dez anos, sou membro da Assembleia Municipal da minha cidade, do meu município. Sempre que há reunião da Assembleia, leio a documentação, formo a minha opinião, tento perceber o que está em causa e esforço-me por lutar por aquilo em que acredito. Provavelmente, cometo erros de apreciação mas, garanto, não é a minha participação cívica que me provoca insónias. Sei que dou o meu melhor!
No entanto, começo a achar que é tempo de me afastar, porque as reuniões da AM começam a revelar-se experiências verdadeiramente traumáticas! Há intervenções, de gente muito jovem, que se fazem de palavras ocas, frases feitas, reproduções de tristes comportamentos a que assistimos na Assembleia da República e que em nada nos dignificam. Ouvir jovens, na casa dos 30 anos, falarem pomposa e rebuscadamente sem nada dizerem, em tons que me provocariam gargalhadas se não fosse o desgosto que sinto, começa a ser traumatizante mesmo. Num mundo em crise profunda, quando o dinheiro escasseia, porque continua a abundar a vaidade, a mediocridade engravatada? Às vezes, nos longos serões que se enchem com estas sessões, oiço ecoar Eça de Queirós: "... Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal". (Farpas, 1872) Será eterna esta condenação à mediocridade?

3 comentários:

  1. Quase apetece chamar ao Eça um "profeta da desgraça", mas esta é a verdade, somos aquilo que somos.
    E não é a "nova" geração de políticos que vai dar a volta a este "eterno" redondel.
    Temos que esperar por uma novas geração de pessoas, mais bem formadas, mais bem orientadas, mais bem educadas, com menos ambição de protagonismo e de avidez pelo poder.
    Cumprimentos.

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  2. Mas , se as poucas pessoas que têm aptidões , que têm formação para estes cargos, abandonam, então é que é o caos total.
    Eu acho que, a idade ou até falta de experiência, não serão o problema maior, pois estes elementos, teriam que ter era a boa formação e humildade q.b.,para deixar decidir outros mais experientes e de maior craveira. Assim harmonizava-se tudo e sairia algo de bom dessas reuniões.Assim aprenderiam...
    O problema é sempre, infelizmente, aparecer nas Assembleias Municipais e noutros lugares, gente sem "berço", sem valores humanos,sem a mínima noção de o que é a justiça, a honestidade ; gente sem senso.Depois,é claro, os que têm uma dose brutal de vaidade a agravar isto tudo...sobe-lhes o cargo à cabeça!!
    Devia haver mais selecção ao eleger-se gente para estes cargos, também tão importantes.

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  3. ...pois sim... "Experiência Traumática" com membros da A.M., mas de Lx...- Eu.E não é por "gente jovem", não ! É gente que nem curriculum tem... com nome, bem do principio do alfabeto...
    ...haja Deus!!!

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