sexta-feira, 2 de agosto de 2013

AZAR

Ando com azar. Ou ando com pouco jeito para escolher as minhas leituras... Depois de uma incursão nos novos autores portugueses, jovens que, na sua maioria, procuram desesperadamente a originalidade através do absurdo e da linguagem violenta e mal-cheirosa, (excepção para o Domingos Amaral e para o João Miguel Tavares), decidi ler o romance "Uma morte súbita", da autoria de J.K. Rowling, a autora da saga Herry Potter que os meus alunos pequenos devoram (em DVD's claro...). Goste-se ou não deste tipo de literatura, penso que é inegável tratar-se de uma escritora com imaginação fértil, capaz de criar enredos de suspense e de nos surpreender com a forma como trabalha o fantástico. Assim, esperava que o romance para adultos, obviamente num registo diferente, fosse capaz de manter viva a imaginação da autora. No entanto, para meu azar, isso não acontece. Em "Uma morte súbita" somos levados para o interior de Inglaterra, para os arredores de Londres, para partilharmos o quotidiano de uma comunidade estranha. Predominam os ambientes degradados, a prostituição, a toxicodependência, a violência sob todas as formas, o podre de uma pequena sociedade que, de acordo com a autora, sumariza a sociedade geral. De novo, para meu descontentamento, abundam os palavrões, as palavras mordidas e cortadas, o linguajar que fere e destrói.
Não sou moralista, sou até defensora da ideia de que é mais importante ser-se feliz do que ser-se perfeito, mas não consigo ficar indiferente à vulgaridade reles. Acabei de ler 494 páginas de lixo humano e, gozando o sol e a praia, sinto-me suja e incomodada pelo horror de que me encheram as páginas lidas.
Talvez estejamos a viver um período literário marcado por um realismo generalista e arrasador. Talvez. Mas eu, que ainda acredito, como Antero de Quental há mais de 100 anos, que a palavra é poderosa, gosto mais de uma literatura que traz algo de novo, que incomoda porque liberta, e não que incomoda porque destrói.
Vou voltar ao meu Aquilino, vou revisitar o Vergílio! Preciso lavar a alma.
 

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