quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Renovação


 Irrecusável. Ele surgira com a calma que a idade permite, longe da fogosidade jovem, e lançara o desafio: - Uma viagem de veleiro! Só os dois, sem filhos, nem netos, nem amigos, nem telemóveis. Eles e o mar, descobrindo cada amanhecer, vendo chegar a noite com uma taça de champanhe. Está bem, para ti eu preparo um Kir Royal, concedera até. 
Quando a vida dá muitas voltas, quando a existência se escreve de muitas exigências, afastamentos, saudades e promessas adiadas, a idade, se estivermos atentos, oferece uma oportunidade. Aceitas? E ela, que sempre temera o mar, as ondas, a navegação, concordara sem dar por isso. Os dois tinham tudo preparado, ela insistiu nos últimos telefonemas às filhas - sempre a ansiedade materna - e partiram. Foram as férias ousadas, diferentes, cheias de silêncios feitos de mil dizeres e sentires. O veleiro alugado, moderno e simples, permitia-lhes a cumplicidade das tarefas a partilhar. As noites, como ele prometera, faziam-se de ternura reinventada, de partilha real e efectiva, e cada nascer de sol trazia-lhes a certeza de que a vida se renova e a felicidade é possível ainda que. Sempre que.
À chegada, os dois renovados, caminharam pela praia e ela, rindo como julgava já nem saber rir, comentara que aquelas cascas pisadas podiam, perfeitamente, ser a metáfora de um passado que ficara definitivamente desfeito!



11 comentários:

  1. E porque não? O amor e o espírito de aventura! A ternura e o Kír!! A oportunidade e a felicidade! O passeio e a entrega! O sonho e o definitivo!

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  2. E porque não? A aventura e o amor! O Kir e a ternura! A partilha e a felicidade! O sonho e a realidade...

    Todas as histórias merecem um final feliz!

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  3. Luisa, estória verdadeira ou inventada pela sua capacidade de bem escrever, mostra que sempre podemos livrar-nos da monotonia da rotina e fazermos algo que renove as vidas...

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    1. E bem importante é, por vezes, ter forças para largar as amarras e renovar a vida!
      Luísa

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  4. Onde anda, que nos abandonou?! Vá lá, chega de férias.

    António

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  5. Faço minhas as palavras do Anónimo de dia 27 que escreveu às 21:35 !

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    1. Dalma e António,
      Obrigada pelas palavras de estímulo. Quebrou-se a minha alma, agora tenho de tentar colá-la e está difícil...

      Beijinhos
      Luísa

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    2. "A minha alma partiu-se como um vaso vazio
      Caiu pela escada excessivamente abaixo
      Caiu das mãos da criada descuidada
      Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
      Asneira? Impossível? Sei lá!"... E agora? Como colo a minha alma? Ensine-me, por favor...

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  6. Faço minhas as palavras do António!

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  7. Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

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  8. Associo-me ao grupo dos que têm saudades tuas...

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