terça-feira, 3 de setembro de 2013

A ESCARPA


Na ponta da escarpa, com vista privilegiada sobre o mar, num lugar dificilmente acessível aos homens, as gaivotas construíram
 o ninho. 
Foi uma tarefa árdua, trabalharam em conjunto, gritando ordens uma à outra, carregando pedaços de terra, limos, palhas, e até alguns pedaços de rede que os pescadores abandonaram. Agora, com a casa pronta, aninham-se ternas e tranquilos. Têm a sorte de não poderem saber que existe amanhã, que uma tempestade pode destruir-lhes o aconchego, que o vento forte de inferno pode levar pelo ar o seu abrigo. São felizes porque, simplesmente, não sabem que o são. Não ambicionam nada, não sofrem decepções e os voos picados enchem-lhes os estômagos sempre que necessário. 
Lembro Pessoa :
"Gato que brincas na rua// como se fosse na cama// invejo a sorte que é tua// porque nem sorte se chama". 
Eu também invejo a paz segura das gaivotas que vivem na ponta da escarpa!

2 comentários:

  1. A inacessibilidade dá segurança, mas dá isolamento...

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  2. Ó Setôra, como é que sabe se as gaivotas têm decepções ou não?!
    Espero que nunca se lembre de ir para cima de uma escarpa daquelas,só para ser feliz...credo!

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