sábado, 28 de setembro de 2013

ABISMO


Ela vinha de lado nenhum. Partira do espaço vazio, do que fica depois do caos, dos escombros de um passado que era, agora, inexistente. Ele chegou cansado, devolvido de uma existência atribulada onde, por quanto tempo?, se perdera. Os dois olhavam o abismo e os dois se olharam também. No olhar do outro, cada um encontrou eco, ainda que não resposta. Falaram a mesma linguagem, sem ontem, sem amanhã, num presente de sentidos nada lógicos. Ela sorria com o olhar, ele gargalhava com o corpo inteiro. Depois, afastaram-se do abismo e partiram. Ele voltou à vida onde era marioneta para o mundo; ela retomou o andar cauteloso sobre escombros que doíam. Sem ser nada, sequer o início de uma possível história de amor, foi o olhar do abismo que os uniu na distância em que, para sempre, se mantiveram. Nonsense? Ou a vida?

2 comentários:

  1. Ficção ou realidade o post fez-me lembrar uma notícia lida por aqui há dias, que resumida dizia o seguinte: "desde 2001 houve apenas 16 acidentes mortais na Golden Gate contra 1000 suicídios... Os trabalhos para colocação de uma barreira intermédia estão previstos para 2014" !! Quantos mais até lá, perguntava o articulista.

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  2. A vida... feita de non-sense...

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