quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O URSO

No bicho, urso, havia algo que comunicava. A ela parecia surpreso, curioso; a ele, vazio, com cara de pouco esperto. Os dois olhavam-no brincando, interpretando o olhar como interpretavam a vida, em uníssono, descobrindo em cada amanhecer uma nova oferta, uma nova possibilidade. Vinham de passeio, final de férias, e aquele bicho ali, no Museu perdido e desconhecido, obrigara à paragem. Por ali andara, leram, a dinastia de Avis. Outros tempos... E ela falava do Portugal perdido, dos poetas ausentes, da mágoa de ver as novas gerações desistir da esperança, arrumar o sonho. Ele discordava, pragmático, afirmando que sempre houvera tempos terríveis. 
De repente, o silêncio foi rasgado, com violência, pelo som roufenho de um automóvel em campanha eleitoral. No chão ficaram papeis coloridos, no ar a voz incómoda.
Os dois continuaram viagem, agora em silêncio, lembrando, talvez, a necessidade de Educação que já a Mãe da Dinastia de Avis defendera...

2 comentários:

  1. Não se suporta a propaganda eleitoral.Nunca vi coisa mais incomoda e inútil . É chuver no molhado, sempre!
    Deixando os papeis no chão, já estão a dar um grande exemplo...grandes perspectivas !

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  2. ...ando sempre a "chover no molhado".

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