quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

O Furto

Quando abriu a carteira não queria acreditar. NADA! Do seu porta moedas recém comprado, das fotografias de momentos irrepetíveis, de cartões de débito e crédito, nem vestígios. Apenas um enorme vazio. Um doloroso e agressivo vazio. Sentiu calor, frio, fúria, raiva, desespero, desalento. Como fora possível? Quando acontecera? De repente, reviu o passado recente, a correria para o comboio, os encontrões, um olhar mais fixo. Desesperada correu as carruagens, chorando, em busca do tal olhar. Nada! 
À sua volta reinava a indiferença. Afinal, todos os dias, a todas as horas, há furtos no comboio... Sentia-se impotente, magoada e revoltada. Procurou funcionários que a receberam com indiferença ineficaz. Está sempre a acontecer, não há nada a fazer. 
Mal chegou ao destino, foi apresentar queixa e, depois de longos e incómodos minutos, soube que nada seria feito. A queixa seguiria para o DIAP e seria arquivada, disseram-lhe. Pagou treze euros. Treze euros por ter declarado que fora roubada, treze euros para ter um documento que, no fundo, atestasse a violência crescente num país que era o seu, treze euros para, com o dito papel, poder voltar a pedir o seu cartão de cidadão. Cartão esse que, se pudesse, não quereria. Quem quer, livre e conscientemente, ter um cartão que certifique que é um membro de um país onde a violência cresce, a impunidade vigora e a indiferença vinga?! Para a consolar, apenas a ideia de  que só faltavam dois dias para partir. Dois dias para voltar ao país onde, sendo estrangeira, se sentia, de facto, cidadã...

4 comentários:

  1. Infelizmente, cada vez são mais frequentes essas situações...

    António

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  2. Eu não imaginava que se pagava para apresentar queixa de furto! É ser-se roubado a dobrar! Lol
    Ana

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  3. Cambada de alárves, saguessugas, empatas...
    Eles até ficam, às vezes, com os 13 euros e mais o produto todo do roubo!!
    Depois de lhes darmos as indicações todas!
    Lagartas esfomeadas...-anda tudo na miséria...

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  4. Luisa, compreendo que às vezes se veja o nosso país por um prisma muito negativo sobre tudo quando nos sentimos mais em baixo...
    Agora pense lá, no país para onde foi a protagonista desse acontecimento não haverá também "pick-pockets"? Foi há mais de 40 anos, quando fui pela primeira a Londres que me deparei com aviso acompanhado do devido desenho para que não houvesse dúvidas: " pick-pockets, beware!"
    E já agora, este Setembro no 2º dia que estivemos em Chicago, o Zé ficou logo sem o cartão de crédito! Não demoramos meia hora a darmos por falta dele e a comunicar o roubo, mas o facto é que o sujeito que no lo roubou ainda conseguiu fazer compras no valor de $200! Nos EUA raramente pedem para conferir a assinatura com outro documento, o que aumenta o perigo de sermos roubados!!

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