sábado, 4 de janeiro de 2014

GINJINHA

Onde está Portugal, hoje? O que é isto de ser país pequeno, e miserável, num mundo pequeno também, embora feito de muitos contrastes? Quem, hoje, a pretexto de aproveitar saldos, descer o Chiado, atravessar o Rossio e olhar o elevador de Santa Justa, encontrará, de certeza, uma capital estranha num país estranhíssimo. Ali, no coração da capital, misturam-se os mendigos, agora com cães a reboque, os turistas mais ou menos endinheirados e os diferentes emigrantes de raça negra. Tudo, ao som do Fado que, ininterruptamente, sai intenso da carruagem verde e dourada. No Chiado chocam embrulhos, cheira a café estrangeiro, muito cosmopolitismo, seja lá isso o que for, e pastéis de nata com canela a lembrar que sim, é mesmo Portugal. Entre um éclair ou um duchaise na Bénard, e um café com Pessoa ali mesmo na vizinha Brasileira, pode ver-se dançar kizomba na calçada, ou deixar uma moedinha ao homem estátua que, imóvel de facto, deixa o chapéu vazio no chão molhado. Lá em baixo, ali mesmo nas Portas de Santo Antão, onde se lê que Lisboa é uma cidade tolerante, estará ainda a ginginha gostosa, tentadora e lusa mesmo. 
Para além de Lisboa, desta Lisboa bilhete postal encantador, Portugal continua apodrecendo e, lembrando Pessoa de novo, segue sendo metade do Nada que é o país de hoje!

2 comentários:

  1. Um retrato quase queirosiano de Lisboa de hoje.
    António

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  2. Parabéns e obrigado pelo belo bilhete postal que nos oferece nesta pintura sobre a zona "chique" de Lisboa. É realmente assim.
    Cumprimentos.

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