quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

OSSOS

Às vezes, o tempo fica curto, o dia escurece e a realidade dói que se farta. E doem as certezas alheias, os conselhos vazios, as seguranças que se fazem de espuma que, porque o são, não seguram nada, não resolvem, nem amparam, nenhuma existência concreta. Se há conselhos que me irritam, e há!, são os que me vêm feitos de sugestões de calma. Como se o tempo tivesse calma, como se Chronos se não devorasse continuamente. Por isso, fecho os ouvidos às verdades alheias e recupero as minhas experiências de felicidade, vividas ou sonhadas, sempre desfrutando, com voracidade e sem calma, as coisas de estar bem. E recupero aquele restaurante terno, paredes grossas, onde as nossas mãos se tocam ao sabor do porto envelhecido. Lembro aquele dia de Novembro, sem nenhum Outono, quando os carreirinhos de chuva na vidraça nos conduziam no jogo de construir futuros. Aquela era a minha linha, com curvas e contra curvas, parando para logo arrancar com nova velocidade; a outra era a tua, a cruzar a minha, firme e direitinha, fazendo círculos apenas nas minhas paragens súbitas. Pediamos as costeletas de cordeiro com alecrim, lembras-te? E tu brincavas com a minha incapacidade de trincar os ossos. Nunca percebias como eu estava cansada dos ossos da vida...

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