segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

SORTE PEQUENA

Vende a sorte. A que dizem grande. Nos lábios um cigarro pendurado, beata mordida, pregão gasto e desinteressado. Garante a sorte, promete a solução para todos os problemas, carrega no olhar a tristeza da sorte vendida que nunca compra para si. No empedrado há passos milenares, olhares estrangeiros, restos de vidas apressadas caídos no chão. Indiferentes, os pombos abusam e ele não os sacode. Ali ao lado, a Santa Casa da Misericórdia, com nada de Santa e fraca misericórdia. Passo olhando, a neta pequenina no carrinho, reparando nos contrastes de uma humanidade tão oca.
Se pudesse, se soubesse como, compraria ali a Sorte. A pequena mesma, servia-me...

2 comentários:

  1. Um texto dos seus! Gostei.
    António

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  2. "Pregão gasto e desinteressado...,antipatia". Quase nunca me deixo impressionar com estes velhos apregoadores da sorte grande.No carrinho da criancinha escondem sempre maços de notas... Manhosos...
    Coitadas das criancinhas!

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