domingo, 5 de janeiro de 2014

TEMPESTADE

Com força os ventos levantavam as ondas e o mar, violento, sacudia o pequeno carro de onde ela via a fúria da Natureza. Procurara aquele lugar, ali no alto, para poder observar a fúria de uma Natureza, feminina também, revoltada contra um mundo louco. Ela sentia frio, frio interior que o casaco forte não conseguia combater. tentara sr do carro, caminhar um pouco, mas o vento másculo nem lhe permitira abrir a porta. Por isso cedera, cedia tantas vezes, e ficara tremendo por dentro vendo o mar. Sempre aquele fascínio aterrador pelo mar em fúria. Um respeito-pavor. Talvez a atracção pelo abismo. Ou talvez, apenas, a revolta incrédula face a um mundo louco! Ligou o rádio e ficou a saber que Ronaldo seria condecorado pelo Presidente da República. Era o país do futebol e do Fado, do vazio e do abandono. Um país que via partir os jovens, 200.000 num ano!, e fazia festa por uns golos. Um país a dizer adeus a jovens promissores, a uma onda de novos e diferentes emigrantes, agora só com bilhete de ida!
Tudo tão estranho. E o mar a engrossar, as ondas a tornarem-se assustadoras, o vento a fazê-la ter medo mesmo. Talvez aquela força fizesse eco dentro dos portugueses. Talvez uma tempestade social viesse mesmo a calhar...

4 comentários:

  1. A vida é estranha mas, talvez por isso, vale a pena ser vivida.

    Lena

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  2. Bom Ano! Que tudo seja bom este ano novo!
    Esperando que a força do mar em fúria se comunique aos pobres mortais portugueses, tão batidos pela desgraçça!
    "Talvez aquela força fizesse força dentro dos portugueses. Talvez uma tempestade social viesse mesmo a calhar..."
    Beijos

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  3. A imbecilidade geral que referes vai-se agravando: nem jornais, nem TVs, nem rádio -é um assassínio lento que Portugal sofre. Venha o temporal, a limpar isto! E coragem! Esta aventura é apaixonante!

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