quinta-feira, 27 de agosto de 2015

LEMBRANÇAS


Hoje o meu Pai faria 90 anos. O meu Pai amava a vida, os amigos, a alegria, o campo, o mar, a família e o trabalho. Quando estava bem disposto, o meu Pai contagiava o mundo com a sua alegria... Para mim, quando era miúda, ele era um super-herói. Depois, mais crescida, percebi que ele era muito mais do que um super-herói porque, ao contrário deles, ele era real, combatia por causas efetivas e enfrentava monstros humanos. Nos momentos mais marcantes da minha existência, desde a operação ao apêndice, ao meu casamento e divórcio, passando pelo nascimento das minhas filhas, o meu Pai esteve ao meu lado.
Casei no dia dos anos dele, e lembro sempre as palavras segredo que me disse então. Ainda me guiam...
O meu Pai gostava de encher a casa de amigos, gostava de grandes almoços e de muita conversa. Para o meu Pai, toda a gente devia ter direito ao melhor e, por isso, lutou contra grandes poderes para conseguir uma Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente em Portalegre. Com o meu Pai, aprendi a amar Portalegre, a escolher um bom vinho, a preservar os amigos e a semear compreensão...
Hoje, o meu Pai já não está ao alcance da minha voz, já não pede que conduza pela Serra que tanto amava, já não me faz esperar no carro enquanto ia, num instante, ver um doente a casa, já não me ensina a distinguir o voo da perdiz, do da rola no céu. Hoje, o meu Pai já não me diz que o sol volta sempre a nascer, que é proibido dizer não sou capaz, que é obrigatório agarrar a vida pelas orelhas. 
Hoje, o meu Pai faz-me uma falta de doer!! Hoje, sinto um enorme desejo de ir ter com ele.

4 comentários:

  1. Luisa, não sei se noutra circunstância já disse isto: queria tanto acreditar que o céu existe, aquele onde encontraria a minha avó e o meu pai! Mas acho que não, que esse ou qualquer outro céu não existe...

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  2. Dalma, eu acredito que o céu existe. Existe no privilégio que é podermos guardar as memórias, e existe para que, um dia, a vida oca ganhe de faco sentido. Preciso cada vez mais de acreditar que existe! Beijinhos

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  3. Sinceramente Luisa, eu também gostava de acreditar. A vida poderia ser tão mais fácil pensando que os bons estariam lá, livres de todos os que fizeram mal!

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  4. Também eu sinto muito a falta dele. Do teu pai que acabou por ser tambem o meu pai. Lembro tantas vezes o seu sorriso, o seu riso, a sua voz...
    A vida não é justa.
    Como eu queria que ele conhecesse os meus filhos. Como eu queria ouvi-lo chamar perspicaz à Constança. Eu sei que o avô a ia adorar...
    Beijo

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