sábado, 27 de março de 2010

Saudades


Pode, sim, ter-se saudades por antecipação. Saudades de uma ausência anunciada, certa, obrigatória e imposta pela vida. E sente-se a partida antes de acontecer, e experimentam-se, dolorosas, as saudades antes de o serem.
Muitas vezes, tantas que lhes perdi o conto, trabalhei com os meus alunos as Despedidas de Belém. Falamos, então, das lágrimas dos que ficam, da hesitação dos que partem, dos afectos estilhaçados, dos amores adiados, das presenças ausentes num quotidiano de espera e angústia. Também com os miúdos, falamos de Pessoa e cantamos, com um certo distanciamento que nos permite ausência de dor, que o mar se salga com lágrimas dos portugueses. Mas, agora, sou eu convocada a dizer adeus. Até breve. Sou eu quem fica, Penélope de uma modernidade ingrata, longe do poesia do mar que lágrimas porventura salgaram, perto da mágoa sofrida que a ausência de quem se ama impõe.
É a vida, tento convencer-me. Mas os afectos gritam ausência de sentidos numa vida que se faz de dor e, sofrendo embora, protejo-me da distância, da solidão, embrulhada nas memórias, nas certezas de cumplicidades a acontecer, segura na rapidez do tempo que se faz de idas mas, FELIZMENTE!, de regressos também!

1 comentário:

  1. Aprendi consigo que dói sempre mais a quem fica, que a quem parte... Dava mais jeito escolhermos como melhor nos soubesse, mas eu sei que é forte! Lembre-se que quem dá aulas em Portugal, supera tudo!
    Beijinhos.

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