terça-feira, 23 de julho de 2013

ROCHEDO

O Tempo dá voltas e voltas e a vida cumpre-se em repetições, em ciclos que, para mim, se tecem de ternuras, de sentires, de mágoas e saudade também. Há vinte  anos chegava à praia bem cedo, a causa era, dizia, as minhas filhas pequenas, o cuidado em protegê-las do sol, a necessidade de aproveitar a maré vazia para poder brincar à beira-mar, nas piscinas das rochas, fazendo construções e pescas curiosas. Foi numa dessas manhãs que uma das minhas meninas descobriu, com indignação, que os caranguejos não andavam para trás, como lhe tinham sempre dito, mas de lado! Creio que foi a sua primeira experiência com o relativismo dos factos que fazem a vida...
Agora, volto à praia à hora ideal, bem cedo, quando o areal ainda está apenas marcado pelas patinhas das gaivotas. Cresceram as filhas, vieram os netos, e a pequena Constança impõe horários sensatos. Assim, a minha caminhada faz-se com o mar inteiro e livre, sem gente, sem ruído. Perto, porque a maré baixa torna o longe perto, o rochedo em forma de barco desafia-me. As gaivotas enchem-no de ninhos e ele parece agradecer a escolha como maternidade. Gosto do rochedo, penso que tem muita sorte porque, dizem os livros, as pedras, ainda que imensas, não sentem nem sofrem...

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