segunda-feira, 10 de março de 2014

PARTIR

Há cerca de seiscentos anos, de uma praia de Belém que já o não é, partiam portugueses carregando sonhos. Indiferentes a Velhos do Restelo, partiam carregando vontades, sentidos a haver, desejos de mudança. Na praia ficavam as mulheres, os inválidos, as crianças, presos a uma condição dada por uma nascença sem opção.
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" e a velha torre é, agora, lugar de romagens turísticas. Contudo, o desejo de partir continua. Agora, o desejo já não se faz de sonhos de grandeza colectiva mas, sim, de ambições pessoais. Ouvem-se candidatos a lugares europeus, sobretudo Coelho e Rangel, e adivinha-se-lhes o desejo de partir, a vontade de escapar a uma tristeza castradora de possíveis que faz a realidade do Portugal de 2014. Oiço-os sem vontade. Cansa-me o vazio e quanto mais eles falam mais vontade eu tenho de não votar. De partir também, de vez, para um Mundo diferente. 
Não sou europeísta, esta Europa pouco me diz, mas incomoda-me o vazio de políticas que ferem e não constroem futuros de sucesso senão para alguns...

2 comentários:

  1. Gostei deste texto, setôra. Gostei mesmo! Beijinhos

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  2. Partir não é igual para todos... Hoje há os que partem por obrigação, como os nossos navegadores de há quinhentos/seiscentos anos que foram barra fora à procura da ventura de um lugar ao sol. Éramos uns desgraçados entre o mar e a Espanha! Hoje empurram-nos para fora outra vez à procura da tal ventura "que ninguém sabe onde mora/se não depois quando chora/ saudades que o tempo traz..."
    Entretanto há uns por aqui a ver se "vão para fora" arrumar a vida, no Parlamento Europeu & etc. Houve sempre. Até há 500 ou 600 anos!

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