sexta-feira, 12 de março de 2010

Morte e Educação

Suicidou-se um miúdo, 12 anos. Suicidou-se um professor, desesperado. Enchem-se, por isso, parangonas de jornais, aberturas de telejornais, sessões no Parlamento, sob o tema da autoridade. Olho, e oiço, tudo com incredulidade.
Sou professora, conheço os miúdos, os professores, os problemas, sérios e graves, que invadem a escola. Mas, no entanto, não acredito que o problema seja, essenciamente, de falta de autoridade. À Escola Portuguesa falta muito mais do que isso! Falta o ESPAÇO PARA SE OLHAR A PESSOA QUE MORA EM CADA ALUNO, falta o ambiente de conforto onde se tecem afectos, falta o Tempo de qualidade onde se constroem aprendizagens, falta humanismo! Para além dos que se suicidam, em desespero extremo, há os moribundos diários, os que esgotam cada dia sem o viverem, os que cumprem programas, circulares, decretos, despachos, etc. sem sentirem a validade do que fazem! Na Escola Portuguesa, na Escola que integro, falta a certeza de que o processo de ensino e aprendizagem tem dois vectores: Ensinar e Aprender! Falta perceber que não basta servir conteúdos em tempos (excessivamente longos...) fechados numa sala,que é preciso edcar para a cidadania, promover competências, desenvolver sentidos estéticos.
Sim,claro que é importante haver autoridade. Mas não, ela não se atribui por decreto! As mortes, que fizeram incidir (até quando???) os holofotes sobre a realidade da Escola, deveriam servir, também, para provocar a mudança, para fomentar a diferença. A Escola de hoje, organizada tal como no século XIX, não responde às necessidades da sociedade do século XXI.
A morte é trágica, sempre dolorosa, terrível quando, como agora, atinge gente com um futuro para cumprir. Mas não é o pior... Para mim, por vezes, é pior a agonia lenta que leva ao desespero diário milhares de outros jovens e muitos professores...

2 comentários:

  1. Em cheio! É isso mesmo! Parabéns!

    Manuel Poppe

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  2. Aprovo tudo o que dizes. E só quem "vive" por dentro a escola no dia a dia, se afeiçoa à miudagem, que vê depois mais crescidos procurar o futuro, se preocupa sinceramente é que talvez possa "dar opiniões"...
    Beijo

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