quinta-feira, 12 de julho de 2012

Água

É, desde sempre, um bem precioso. É, cada vez mais, um bem essencial. A água é cara, é privatizada, é politizada até. Por causa de água mataram-se pessoas, faliram empreendimentos e, pior, morrem crianças diariamente. Agora que o Verão aperta, começam a encher-se as piscinas, a procurarem-se as praias e eu nem imagino o que seja viver sem a frescura do precioso líquido. Por tudo isto, lembrei-me da história da pena de água da velha casa amarela.
Há muitos, muitos anos, aí por volta de 1934, um velho senhor comprou uma pena de água. Pretendia com ela abastecer a casa de campo que ofereceria à neta predilecta, e comprou a água fresca fazendo registo, escritura, e julgando, claro, que para sempre seria proprietário daquela nascente. Morreu convencido disso. (De outras coisas também, mas essas não vêm ao caso). Durante muitos anos, até 2012, a água foi sempre da neta e foi sempre correndo. Bem poupadinha, servia para fazer cantar a fonte (houve até quem gravasse a melodia), para regar a horta e para beber no dia-a-dia. Aquela água, fresca e pura, era a riqueza da velha casa amarela.
Ora, no ano de 2012, ao abrigo não sei de que legislação ou (má) boa-vontade, junto da pena de água, num Restaurante encerrado, numa Quinta que devia ser da cidade, a autarquia resolveu alojar os canarinhos. Não os amarelos, que cantam e alegram existências, mas os amarelos berrante, que bebem muita cerveja, têm carros cheios de luzes e, teoricamente, protegem os civis. Esses canarinhos, nada inhos, nada fazedores de alegrias alheias, não quiseram saber da escritura, do cadeado, sequer da necessidade de preservar o precioso líquido e, sem mais aquelas, rebentaram a fechadura e puseram a água a correr para o tanque próprio. A velha casa amarela, triste, protestou. Nada a fazer. Fosse num país onde a lei existe, tudo seria diferente. Mas, como a história real acontece num país onde nada funciona, o roubo, porque de roubo se trata, ficou impune.
Há histórias terríveis no Portugal de hoje!

1 comentário:

  1. No meio de tanto ladrão e tanto burlão no governo, como vão dar conta que roubaram a água à Casa amarela, a água da menina?
    Como vão punir quem se assenhorou da nascente?
    A água, aqui, é como o "dinheiro do Estado"-Quem está mais perto, apanha!

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