terça-feira, 10 de julho de 2012

Rasto

Ao fundo, o mar. Ouvia-o certo, adivinhava a espuma que cobria a areia e deixava-se ficar, numa preguiça consciente, adivinhado a vida a acordar lá fora. As gaivotas grasnavam, loucas sob os primeiros raios da manhã, talvez indignadas com os jovens musculados que semeavam toldos e cadeiras ocupando-lhes o território. A distância, o 23º andar daquela torre onde alugara apartamento, permitia-lhe a enorme vantagem de adivinhar sem ver, de sonhar apenas, eliminando a urbanidade que a irritava. Era mulher de campo sempre, de praia às vezes, nunca de cidades ou multidões. E gostava das férias assim, na praia, na companhia das leituras que o dia a dia impedia. Ia levantar-se, tomar um bom café, comer um pastel de nata (calorias? ), não ler os jornais, desligar o telemóvel e caminhar na areia vendo, rapidamente, desaparecer o rasto dos seus pés descalços. Gostaria também que desaparecesse assim a vida, rapidamente. A sua.

1 comentário:

  1. Que texto bom e convidativo a Férias... é mesmo dos programas que eu também gosto de fazer em férias, até o pastel e as pisadas na areia; mas esta coisa do fim - que a vida também desaparecesse, x'ôoooo...p´ra lá!

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