terça-feira, 9 de julho de 2013

PALAVRÕES

Estou velha. Estou, decididamente, a entrar na fase em que me parece ver o mundo de fora, sem concordar quase nunca com o que se passa lá dentro, com tendência a pensar que "dantes" era melhor. E é terrível ter consciência disto!
Não entregando os pontos, tento combater esta evidência, e faço-o a todos os níveis. Faço-o, sobretudo agora que o tempo encompridou, com as minhas leituras. Resisto à tentação de voltar à Madame Bovary, tento não olhar muito para o meu amado Aquilino, deixo quietos os romances de Helena Marques, e imponho-me leituras de hoje. Nas livrarias vou lendo sinopses, minibiografias, e vou comprando os premiados. Foi assim, e depois de já ter tido nas mãos por várias vezes aquele título, que me lancei no prémio Leya 2011, "O teu rosto será o último", da autoria de João Ricardo Pedro. Enchi uma garrafa de litro e meio de água, coloquei o meu velho chapéu de palha, estendi-me na cadeira de repouso e iniciei a leitura. 
Confesso que as minhas reservas diminuíram face ao tamanho do livro, pensei nos meus alunos (Quantas paginas?) e fiz-me ao texto com boa vontade, de espírito aberto.
Logo nas primeiras páginas, esbarrei com muitos palavrões. MUITOS! Daqueles carregados de "éfes", de "érres", de "cês", de "pês" também. Mas continuei. E aos poucos comecei a sentir-me suja, com pó na garganta, obrigada a fazer intervalos cada vez mais longos na leitura. A intriga até me interessou, bem pensada, articulando factos reais com a ficção, mas o vocabulário tornou-se um obstáculo à minha leitura. Um "distractor"...
Não gosto de armar em santa, eu também sei muitos palavrões, também os digo às vezes. Por exemplo, se me magoar fortemente, é pouco provável que grite um que maçada fui molestada fisicamente e estou com uma sensação de dor incómoda,  mas de facto incomoda-me ouvir, ler, violento palavreado sem que traga ao texto nada de necessário. Não percebo que necessidade há em tratar Mozart com três palavrões, ou falar de práticas sexuais com linguagem de sarjeta. 
Não gosto de vulgaridade! Acho sempre que vocabulário de carroceiro só fica bem quando se lida com bestas... Não vou recomendar este livro a ninguém e, com certeza (pelo menos nos próximos tempos) não comprarei nada escrito pelo João Ricardo Pedro, tenha ele os prémios que tiver!

4 comentários:

  1. Eu parto-me a rir com assuas saídas, setôra!

    João

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  2. Às vezes, um bom palavrão alivia... Bem que gostava de saber o que diz quando se magoa!

    Fernando

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  3. Eu também não gosto de palavrões e, para mim, os clássicos são sempre a melhor opção de leitura.

    Margarida

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  4. O título é sugestivo. Mas eu também não gosto nada de palavrões. Acho sempre que é violência gratuita.

    Mª. da Graça

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