quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Ao contrário

Senta-se num lugar junto à janela e espera o início da viagem. Há apitos, avisos, tremores, e, aos poucos, o combóio ganha velocidade. Vai ao contrário, ela. O combóio segue no carril certo, acelera já, e ela vê tudo desaparecer ao contrário. Sempre lhe acontece o mesmo, sentar-se ao contrário, e ainda assim não aprende. Fecha os olhos, tonta já de ver tantos rabos a vacas, e pede um Pinot Noir. Chega-lhe fresco, frutado, e ela delicia-se, indiferente até ao facto da verde Inglaterra lhe surgir amarelecida. De olhos fechados sente a velocidade vertiginosa e torna-se parte dela mesma. Desfilam agora viagens passadas, colheitas tardias feitas Late Harvest sempre partilhadas, e lugares quentes sempre junto à janela. Como se a janela lhe permitisse manter de longe a vida, essa mesma circulando ao contrário, num sentido tão diferente do seu...

1 comentário:

  1. Que bom viajar de comboio em Inglaterra, com uma bebida e paisagens,mesmo que seja com rabos de vacas...
    Pena não se ter sentado "ao contrário".
    Quase sempre as viagens de comboio,nos fazem recordar coisas passadas.Dantes havia uma explicação para isso, pois devia ser porque as viagens eram lentas.Agora já são tão rápidas, mas será por serem raras...

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