domingo, 23 de junho de 2013

O FACHA

Na minha cidade havia um Café com muita história. Era um Café com portas giratórias, onde em miúda adorava passar, com madeiras escuras e situado bem no Rossio. Nas quartas-feiras e nos sábados, sobretudo, o Café Facha enchia-se de chapéus alentejanos, de lavradores de pele escura, calças estreitas, e coletes de onde pendiam correntes de ouro ou prata segurando pesados relógios. Estes homens, que davam vida ao largo, tiravam o chapéu sempre que passava uma senhora, faziam negócio e  coloriam a cidade. No Café Facha comia-se bem, a gastronomia alentejana, conversava-se muito e respirava-se o ambiente lagóia de que eu tanto gosto.
Agora, o Café Facha foi deitado abaixo. No lugar dele, vai surgir um Hotel moderno, descaracterizado, igual a todos os hotéis de província posta em bicos de pé: - Feio e ridículo! Agora, já não há lavradores no Rossio da minha cidade, já não há correntes de ouro (nem de lata), já ninguém tira o chapéu quando passam as senhoras. Agora, Portalegre ficou mais triste, mais vazia e com menos identidade. Sei que nada é eterno, que tudo tem o seu tempo, que a mudança é constante, que a arquitectura de hoje não é igual à de ontem. Sei tudo isso, mas tenho tanta pena que tenham deitado abaixo o Café Facha...
 

5 comentários:

  1. Se não tivesses posto as fotografias não acreditava! Como é possivel deixarem destruir o Café Facha?? Era um marco na nossa cidade! Até eu me lembro de lá ir almoçar com o Avô!! Que crime!!
    Vão acabar por completo com Portalegre. Deviam ter vergonha!!

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  2. Destroem-se cidades, esvazia-se o interior do país, impõem-se modelos sem carácter e, para enganar as pessoas, diz-se que é progresso. Progresso de parolos, acho eu!

    António

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    1. É isso mesmo! O vício de se ser moderno, como se isso trouxesse felicidade a alguém...

      Luísa

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  3. Também verifiquei na semana passada a destruição do Café Facha e comungo da tristeza da Luísa pois também tinha como todas as miúdas o fascínio de dar umas voltinhas na porta giratória,sempre que os furos das aulas permitiam os passeios pela rua do Comércio, nessa altura tão movimentada e tão cheia de vida.Espero que o futuro hotel fique bem enquadrado e que tenha mais sucesso que o de D. João IV.

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    1. Era D. João III o pobre Hotel que, a mim, também deixou saudades. Fiz lá o lançamento do meu segundo livro, já com os cortinados e as alcatifas rotos... Agora, rota e esfarrapada está a cidade!

      Luísa

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