sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O INTRUSO

Estava ali no meio do campo. Bom, no meio não. Verdade-verdadinha estava encostado à berma, em ferro, recém-pintado, parecendo até um pouco envergonhado por quebrar os tons de castanho que pintavam o entardecer alentejano. À primeira vista, podia ser confundido com uma bengala. Mas não o era. Não saía do mesmo lugar, não podia amparar ninguém. Sugeria, também, uma muleta. Mas nenhum coxo gostaria de ficar ali, colado ao velho muro de pedra.
De facto, o grito verde de ferro era apenas um intruso. Uma aberração na paisagem, uma chocante presença, uma atracção para olhares mais curiosos. Estava a mais. Sentia-se desenquadrado, diferente, sem iguais, sem apoio, sem grupo. No entanto, gostava da sua identidade diferente. Da sua força e firmeza, também. Era um ferro, mas podia bem ser uma pessoa. Assim mesmo, sozinha, isolada, destoando da paisagem.

1 comentário:

  1. Um intruso como muitos que nos vão aparecendo na vida. Mesmo estando perto, mesmo habitando o mesmo tecto, coisas ou gente que nada nos diz, que não nos apetece, que tentamos ignorar.

    Verdadeiros intrusos e tropeços na vida.

    Cumprimentos.

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