sábado, 24 de março de 2012

A Inquilina

Não paga renda, não é convidada, não tem contrato selado mas, todos os anos, chega com a família e aloja-se atrás da lanterna que ilumina a minha porta. É viscosa, gorda, atrevida, e já me olha de lado, língua de fora, indiferente à corrida que dou para entrar em casa sem que ela me caia em cima. A minha inquilina, a dona osga, normalmente chega a meio de Maio, sem malas mas com a filharada às costas, e fica até Outubro. Vem passar o tempo quente à Serra....
Este ano, chegou muito mais cedo e já está instalada. Deve ter sentido o calor excessivo, ou se calhar entrou no desemprego, e já ocupou o espaço que, sendo dela, é meu.
Não morro de amores pela minha inquilina. De facto, eu detesto répteis, e as osgas, particularmente, causam-me arrepios. No entanto, admito que já estabeleci com esta família, deve ser já a quarta ou quinta geração, uma certa ligação afectiva. Gosto de as ver caçando moscas, acho graça à forma indignada como  me olham quando desligo a lâmpada e sinto uma certa inveja por poderem passar o dia de papo para o ar. É que elas não sabem da crise, não conhecem o ministro Gaspar, não descodificam a palavra poupança. ~
Têm muita sorte, as minhas inquilinas!

2 comentários:

  1. Essas são as inquilinas que menos preocupações devem trazer: são silenciosas, vão comendo as moscas e outra bicharada menor, vigiam a nossa porta e ainda, com o visco que possuem, devem lançar mau olhado a visitas indesejadas.

    Beijos de bom olhar.

    Ricardo.

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  2. Já sei a história da D. Osga! Os animais fazem boa companhia! Só cobras é que não! bjs

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