segunda-feira, 5 de março de 2012

Os pontos

Ela insistia: - Tinha pontos para gastar! A resposta vinha firme, não poderia utilizá-los se não no final de dois anos... E ela protestava: - Mas eu preciso agora e já tenho este contrato há imenso tempo! - A resposta, na ponta de uma unha/garra vermelha e brilhante, incidia nas letras miudinhas... Sim, ela já devia saber que há sempre letras miudinhas, que nunca as ofertas são o que parecem, que não há jantares grátis, que os favores e facilidades não existem... Mas, ainda que segura das sua certezas inócuas, insistia: - Eu preciso de um telemóvel novo e, se não é possível usar os pontos, vou mudar de serviço. Veio o supervisor com a resposta certificada, um não mais autorizado.
Saíu da loja irritada. Ainda no automóvel, abriu a carteira e encontrou os cartões: - uns prometiam pontos, outros descontos, outros crédito imediato, outros acessos privilegiados. Soube-lhe muito bem rasgar todos, partir em bocadinhos os mais duros, e lançá-los no cinzeiro de onde seriam aspirados directamente para o lixo. Estava farta de adiamentos, de promessas condicionadas, de ofertas envenenadas. Cansada de uma realidade cheia de plásticos para iludir a verdade, para entreter as dificuldades. Estava farta de comprar pão e entregar um cartão, de ir ao Supermercado e passar outro cartão. Estava farta, até, da publicidade daqueles que garantiam descontos sem cartões nem promoções...
Pontos? Só se, por azar, tivesse de recorrer a um cirurgião!

3 comentários:

  1. Há pontos para tudo, até na escrita! O ponto parágrafo, o ponto de exclamação, o ponto de interrogação e, para acabar as conversas e as relações desagradáveis ainda temos o Ponto Final.

    Beijos

    Álvaro

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  2. Cartões?... Se os benefícios não fossem para quem os "oferece", não havia tanta insistência para os impingirem aos incautos das letras miudinhas...

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  3. Não podemos confiar nem nos pontos...
    Eu ofereço-te um teelemóvel!
    beijos

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