domingo, 26 de agosto de 2012

Domingo

Comprou o Expresso, o Público também, e fez-se à esplanada. Gostava de ficar ali, protegido pelos óculos escuros, fingindo ler os jornais enquanto espreitava o mundo. Na grande cidade, o seu lugar de eleição, confundiam-se rostos, cruzavam-se silêncios. Ele escolhia sempre a mesa junto à janela e pedia a bica com canela. Gostava de roer o pau gostoso, lembrando as histórias que ela costumava contar, lembrando sempre leituras e viagens alheias.
 Hoje, domingo, havia mais casais maduros. Mulheres frescas, homens desportivos camisas de risquinhas e pólos Hugo Boss. Falavam pouco, os casais maduros, olhando, como ele, os vizinhos de mesa. Os jovens casais pareciam-lhe mais faladores, trocando beijos e toques  ousados, sorrindo muito também. Numa mesa maior, um grupo de raparigas, idades indefinidas, ria alto e dedilhava telemóveis. Impressionante a velocidade com que teclavam sms enquanto conversavam, ou bebiam as coca-colas carregadas de gelo. A ele, os constantes sms irritavam-no. Sentia, muitas vezes, que, com a loucura dos telemóveis, as pessoas falavam agora muito mais dizendo cada vez menos. Mas não queria rabujar. Queria, apenas, gozar a manhã fresca de um domingo mais. Estava ali, consciente do tempo, olhando e pensando. Por nada e por coisa nenhuma. Apenas porque estava vivo, gostava de café e era domingo.

2 comentários:

  1. É uma benção de Deus, poder estar descontraído, sentado na esplanada, num Domingo, ler o jornal e observar o mundo que o rodeia... em perfeita harmonia e feliz contemplação!...

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