quinta-feira, 18 de outubro de 2018

ANIVERSÁRIO DA MINHA AMIGA

Defendo o valor da amizade. Aliás, eu não seria quem sou (para o bem e para o mal) se não tivesse os amigos que tenho... E de entre os bons amigos que tenho, felizmente poucos mas verdadeiros, há na minha existência uma amiga especial. Uma amiga tão especial que, se eu pudesse ter escolhido, seria minha irmã. 
Eramos miúdas quando nos conhecemos, no então ciclo preparatório, aproximando-nos por nenhum motivo especial, apenas pela ausência de razões, tornando-nos inseparáveis. Adolescentes, no tempo em que a vida provoca sentires e questiona razões, passávamos o dia juntas na escola e, depois, continuávamos juntas em casa um da outra, ou ao telefone. A mãe da minha amiga (saudades!) foi um apoio para mim. A minha mãe tinha outras preocupações e ali, comendo bolachas com um doce de tomate que nunca esqueço, sentia-me mimada e protegida.
Eu a minha amiga chegámos a partilhar namorados. Só para sabermos se valeriam a pena um investimento mais sério... As gripes e anginas, reais ou simuladas, permitiam-nos passar tardes no quarto, conversando e ouvindo música, sonhando coisas só nossas. 
Então, havia as festas de garagem. Tão boa a sensação de transgressão nos abraços mais ousados, o sabor dos primeiros beijos com os namorados que garantíamos eternos. A velha praceta acolhia as motas, as conversas de grupos onde nós, sempre as duas, tínhamos um casulo privado.
O tempo passou. Casámos, eu descasei, vieram as filhas e tornamos-nos comadres. Trocamos filhas e afilhadas, e a amizade continuou. Mesmo no silêncio, a certeza de que a outra está lá. Sempre onde faz falta e quando é precisa! 
Chegaram os netos e, entre risos e conversas mais sérias, a quatro mãos ajudamos a minha neta a fazer cocós. Era o que a nossa habilidade manual permitia... As conversas continuaram, os segredos, só nossos, continuam a existir. Só ela ralha comigo, só ela sabe como sofro às vezes, só ela adivinha, na minha voz, quando a tristeza bate forte. 
Hoje, esta minha Amiga mais que irmã faz anos. Eu vou estar longe, porque o trabalho obriga, mas é noite, tarde, e eu penso no fantástico privilégio que é ter esta amiga. Choro, agora, com saudades de ontem. Com essa certeza de, como diz Pessoa, ter sido feliz  outrora agora.
Parabéns, Mena!


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