quarta-feira, 3 de outubro de 2018

AS MALAS

Escolho sempre a mesma, embora tenha mais duas, igualmente pequenas, que vivem no fundo do meu roupeiro. A minha mala é verde, brilhante e já bastante suja dos maus tratos dos aviões. Mas, mesmo assim, a minha alma ganha vida quando a abro em cima da cama e começo, com cuidado, a dobrar a roupa para partir - Partir, perder países, ser outro constantemente! -  para ir ao encontro de outro espaço, de um outro cenário, de outros cheiros e sabores.
Hoje, a minha mala já está aberta e, com mil cautelas, tento que as boleimas que levo para os netos não se desfaçam entre as cuecas e as meias.Escolho roupa cómoda e gozo, por antecipação, o fresco que me vai acolher em terras de sua Majestade.
Embora vá com alguma frequência Inglaterra, não tantas como desejaria, cada viagem surge-me sempre com sabor a estreia. É cada vez melhor, para mim, partir. Sobretudo, partir com a possibilidade de voltar ao meu espaço, ao meu mundo  silencioso, almofadado pelas ausências que sempre estão presentes.

1 comentário:

  1. Oh! As boleimas! Se calhar eu corro o risco qd, daqui a muitos anos os meus netos forem avós, se lembrarem de mim como a “avó das boleimas”!!
    Impensável chegar lá a casa sem elas!

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