terça-feira, 23 de outubro de 2018

EXAGERO

Não sei de onde vem. Talvez, afinal, não venha de lado nenhum, não haja causa num efeito que, inegavelmente, se faz sentir. Chega sem aviso, instala-se de mansinho e deixa-me com um desejo absurdo de sofrer. Mas eu não sou Cesário, não sou poeta. 
Sou mulher. E ser mulher é, não tenho nenhuma dúvida e apesar do politicamente correcto, ter características particulares. A minha especialidade, aquilo em que eu cruelmente sou boa, é em sentir! 
Sinto tudo de forma exacerbada e, em mim, o coração não gira a entreter a razão. Sinto a urgência da transformação do mundo, sinto a revolta perante a injustiça violenta face às mortes nesse mar que se tornou cemitério de sonhos, sinto a mágoa do ódio pequenino, tecido de inveja e maldade, sinto a solidão que a noite insiste em encompridar de forma dolorosa, sinto a saudade intensa de ausências sempre presentes, sinto a mágoa da impossibilidade de dizer da minha confiança na possibilidade real de construção de um mundo diferente.
Ah! Não sei de onde vem. Não sei como chegou, sem aviso, este absurdo desejo de encostar a cabeça, fechar os olhos e acreditar que sim. Que tudo vai correr bem...

Sem comentários:

Enviar um comentário