segunda-feira, 29 de outubro de 2018

CONTÁGIO

Há meninas e meninos, crianças e adolescentes que, em Portugal, vão à escola. A escola é obrigatória até aos 18 anos, ou até à conclusão do 12º ano. E os meninos, e as meninas, vão à escola. E ouvem os professores, mesmo sem perceberem muito bem o que dizem. 
Há meninos e meninas de muitas cores, de muitas religiões, com muitas histórias diferentes ouvidas antes de nascerem.  Alguns sonham, sentados nas cadeiras incómodas, com  terras quentes e vermelhas, outros com as mornas cantadas à noite, outros tremem quando a porta bate, com medo que haja mais tiros, que a manhã se faça de mais funerais. Há muitas crianças na Escola Portuguesa. Neste universo de diferenças, há professores. Uns aborrecidos porque não lhes contam os anos todos de serviço, outros zangados porque os meninos não são todos iguais, outros mal dispostos porque o computador não funciona, outros com vontade de fazer alguma coisa com sentido. E a campainha toca de espaços a espaços, estridente, tornando imensa a fila para poder comer alguma coisa que, se não ilude o tempo, pelo menos distrai o estômago. 
Na sala de professores, cruzam-se diferenças. Vale a pena tentar fazer de outro modo, afinal a escola deve mesmo ser para todos, deve eliminar o determinismo social; não adianta mudar nada, aprender é igual sempre, os meninos e as meninas têm é de ouvir e estudar, nem todos vão concluir os doze anos de escola, sempre foi assim; eu não vou mudar nada, não me pagam para isso e há trinta anos que faço assim; afinal, foi com o ensino tradicional que o homem foi à lua...
Os meninos e as meninas passam no corredor. E o corredor enche-se de sonhos desfeitos. 
Ou não... 
Porque, de repente, do lado de lá do vidro, podem ver-se miúdos a circular por grupos, a experimentar escrever um conto, a muitas mãos, onde Luís de Camões dialoga com a mãe contando coisas da Índia distante. E há dois professores na sala, um deles num grupo, o outro a fazer uma pesquisa com três alunos - Afinal, a canela é, ou não, afrodisíaca? E há um menino que ensina, noutro grupo, a fazer um doce de canela e gengibre, receita da avó negra que veio do Brasil
Um dia, a Escola vai mesmo ser para todos os meninos e para todas as meninas. Porque a transformação já começou e há, felizmente, práticas que contagiam!

1 comentário:

  1. Luísa, a escola só muda qd os professores mudarem e “uma, uma dúzia de andorinhas” infelizmente não fazem a Primavera!! Mas claro, é preciso começar,

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