segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Mia Couto

A Demora

O amor nos condena:

demoras
mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.

Espero-te antes de haver vida
e és tu quem faz nascer os dias.


Quando chegas
já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.

Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.


Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.

O teu vestido tomba
e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.



Mia Couto, in " idades cidades divindades"

2 comentários:

  1. Belo poema!
    Vou à procura deste livro.

    Menos mal, que a Setôra está a começar o ano, calminha e romântica. Vamos ver quanto tempo vai durar...
    Bom "Ano"!


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  2. Que poema tão bonito!! E eu que tenho a mania que não gosto de Mia Couto...

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