quinta-feira, 27 de setembro de 2012

No Convento

Entrou no vazio total. O coração a doer, a saudade forte, a dúvida e o medo, fizeram-na sentar-se e ficar olhando. Não rezava. Não tentava as fórmulas que há muito desaprendera mas, ainda assim, gostava daquele lugar, da frescura, da beleza do altar. Olhou os azulejos, mais uma preciosidade do seu Alentejo, e foi-se deixando ficar.
Porque estava ali? Entrara para tomar um café no Hotel, para recordar o baptizado do neto, para recuperar memórias, para descansar do pó da existência e, afinal, substituira o café pela entrada na capela. Conscientemente inconsciente, a troca...
Sendo um Convento pequeno, não deixava de ser rico. Talvez, até, excessivamente rico. Mas ela gostava do cuidado da construção, da brancura predominante, do silêncio do campo envolvente, do conforto da recuperação do espaço.
Olhou a imagem central. Uma Nossa Senhora, de manto longo e olhar triste. Conversou com ela, na cumplicidade que o silêncio permite.
Ao sair, colocou os óculos escuros. Não queria leituras de alma.

1 comentário:

  1. É bom haver um abrigo assim dourado , onde se possa entrar e fazer retiro espiritual. É gostoso o silêncio.Se rezarmos, por mais baixo que seja, perturba.Gosto de entrar em igrejas ou capelas que tenham beleza e silêncio. Parece que estão ali, para nos receberem. Saímos de lá, sempre, com um exame de consciência bem conseguido!

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