sábado, 9 de março de 2019

Narrativa

Quem escreveu o guião da vida, não me criou personagem. Sinto que não sou figura de roteiro alheio e, por isso, faço o meu caminho, escrevo o meu guião. E, hoje, desafio-te a entrares em mais um capítulo da minha existência.
Hoje, o sol brilha e os campos enchem-se de afazeres. Estão a podar as árvores, a limpar os enormes sobreiros, a queimar os restos que o Inverno deixou. Por toda a Serra há espirais de fumo, a terra respirando, e todos apontam para o céu. Para o lugar inacessível onde dormem os sonhos. O chão está coberto de ramos e folhas, de bolotas e landes, e os homens falam alto, uns para os outros, orientando as tarefas. Os cães correm, espalham tudo, não percebem a agitação. 
Estou agitada, também. Queimo os ramos sem sentido da minha realidade, sentes o fumo? Vá lá, está purificado o ambiente. Vem daí, atira as regras alheias para a fogueira e vamos escrever a nossa narrativa. Na primeira linha os sentires, pode ser? Vá lá, vamos caminhar e observar as corridas dos coelhos, as filas das formigas, o andar bamboleante das vacas, o voar dos pardais tontos. Não há mar, aqui. Mas há a força da terra viva, habitada, cheia de seiva de futuros a haver. Vá lá, ignora as regras dos outros, escapa ao livro que todos leram, anda daí, vamos rir-nos de nós mesmos, vamos reinventar a essência e sermos os dois um só na plenitude da comunhão. Aceitas? Anda daí, vamos escrever uma narrativa a quatro mãos. Hoje. Agora. Já. 

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